O The Guardian publicou uma matéria sobre “Mary & George” às vésperas da estréia da série na Sky. Confira a seguir traduzido.
Texto de Joel Golby
Tradução de Pedro Correa
Julianne Moore usa o seu deslumbrante filho como um peão real sexy – e é um deleite perversamente lascivo
A parte mais difícil deste trabalho é escrever sobre drama. Como ficar entusiasmado com o drama? “Eles disseram as coisas da maneira correta. Sem piadas. Todos estavam empenhados em dizer suas falas com muita seriedade. E então o drama aconteceu.” Toda vez que um grande projeto de drama aparece, eu me preocupo: o que posso dizer sobre as escolhas de vestuário, músicas, direção? Porque a atuação nesse tipo de coisa é sempre tão pura, tão boa, de primeira, mas, depois, nunca me dá aquele gostinho. É só drama.
Mary & George (que estreia 5 de março nos Estados Unidos) então, que é um drama, tem um figurino bom, e a música é genuinamente fantástica, e a direção, espetacular. Mas, na verdade, existe algo verdadeiramente interessante sobre Mary & George que me pegou do nada, e é isso. O drama é bom, pelo menos, e percebi porque esse tipo de produção é que acaba sempre ganhando prêmios.
O mote de Mary & George é muito bom: Julianne Moore interpreta Mary Villiers, a calculista Condessa de Buckingham (inspirada na verdadeira), saracoteando pela velha Inglaterra nos anos 1600, com um grosseiro sotaque inglês, e que tenta empurrar seu segundo filho, George (interpretado facialmente bem por Nicholas Galitzine, de Vermelho, Branco & Sangue Azul). Você não quer assistir Julianne Moore usando seu esplendoroso filho adulto como um peão real sexy? Você quer, e eu também, e estamos certos nisso. Os dois protagonistas são ótimos. O George de Galitzine está deprimido e doce, até uma viagem para a França, que o transforma em um pequeno prostituto sexy, enquanto Morre está esquematizando e manipulando tudo de maneira encantadora, sempre correndo os olhos de um lado para o outro, tentando calcular seu próximo movimento. Eles estão ambos sacanas, mas de um jeito divertido e dinâmico de assistir.
“Conhecimento” é a palavra principal aqui. Seria mais fácil rotular essa série como “camp”, mas eu não tenho certeza de que isto seja certo. Há muita sexualidade histórica queer, claro – Villiers está constantemente tentando colocar seu filho diante dos olhos do Rei Jaime I (um divertidamente lascivo Tony Curran). Também tem muito de chupar frutas frescas, sugestivos brincos dourados balançantes e todo mundo está sempre jantando em um bordel – apesar disso, o sexo em Mary & George é quase sempre poder acima de luxúria, e é interpretado como tal. Mary & George pulsa com um rompante de energia, e seria fácil cair nisso, mas o que todos estão fazendo aqui é muito mais interessante: Robert Carr de Laurie Davidson fisga o espectador com sua vilania, e Niamh Algar é cheio daquele jeito ‘intriga da oposição’. Sean Gilder interpreta Sir Thomas Compto, um perfeito rabugento de série de TV. Eu sou totalmente fã de dramas de época onde todos, mais do que nunca, falam como se fossem normais, e esta série cai no ponto perfeito: a ausência completa de “sim, Milorde, não, Milorde”, e, ao invés disso, toda aquela malícia dos personagens no tete-a-tete atrás das cortinas de veludo.
Mais dois elogios antes de terminar: existem algumas escolhas de direção que fazem Mary & George ser inovadora e interessante. Uma delas é – e isso vai explodir sua mente – sem imagens de drone. Talvez produções recentes tenham sofrido de uma moda ‘excessivamente épica’ (muitos ângulos de câmera alternantes, várias catapultas jogando pedras no nada: do mesmo jeito que as ficções científicas algumas vezes parecem dois computadores um pouco bravos uns com os outros) mas M&G parece mais rasteiro e real como resultado. Você vê de verdade os rostos humanos se moverem, você vê pessoas criarem esquemas e discutirem em banquetes, você ouve o crepitar do fogo. Isso é bom. E, também: em um episódio, há uma cena crucial – um momento de humilhação, ou de grande vitória, algo gigante, bem, drama – que é feito em câmera lenta, e todo o diálogo e áudio são desligados, e uma orquestra épica toca ao fundo. O efeito é o de como olhar para uma pintura renascentista cheia de camadas – quase como se várias rodas de intriga estivesse girando – e estão, principalmente porque Galitzine está no meio de tudo isso, e, fantástico de admirar. Que delicioso, meu Deus! Que drama delicioso!
Fonte: The Guardian | Tradução: Pedro Correa – NGBR